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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
No seguimento da minha leitura da Crónica da Conquista de Granada (podem acompanhar aqui), dou comigo a ser transportado para mais um Pueblo que me deixa sempre boquiaberto, isto por mais vezes que lá acorra – Ronda.
Conheci Ronda pela primeira vez em... Córdoba. Lembro-me de estar à espera para visitar a Catedral/Mesquita, ou seja, esperava pela celebração da eucaristia, pois assim conseguiria visitar a Catedral gratuitamente – um bom negócio, em
meu entender.
Enquanto esperava, esta incansável vontade de falar com todos, acabou com uma conversa de mais de uma hora com um cordovês e com a esposa a prestarem-nos uma autêntica lição de história e etnologia sobre Andaluzia. Estaria tudo bem, até eu dizer que Andaluzia para mim não tinha segredos... mas eis que Ronda saltou para a discussão e afirmei não conhecer aquela localização.. “hombre, si no conoces Ronda, no puedes conocer Andalucia!”.
E pronto, dei comigo a ter uma aula de história sobre Ronda, aliás, terra que já não me era estranha da leitura do “Último Cabalista de Lisboa”, de Richard Zimler - s menções ao importante Judeu de Ronda. Fiquei com uma vontade enorme de me aventurar, mais uma vez, por aquelas montanhas andaluzas e conhecer o seu Carnaval peculiar que inclui desfiles a cavalo e a “obrigação” de comer migas na Plaza de los Descalzos. Infelizmente, nesse dia, o destino seguinte era Jaén e só mais tarde viria a perceber que realmente não conhecia Andaluzia.
Ronda surge, na “Crónica da Conquista de Granada”, como uma praça fortíssima e de grande importância para os Mouros! Ouso até dizer, que foi o primeiro rude golpe contra o reino de Granada.
Entretanto, depois da conquista de Zahara por Aben Hácen, já os cristãos haviam conquistado praças como Medina Sidonia, Alhama (mesmo às portas de Granada), Zahara (reconquistada) e Loja. Também em Granada, a governação, era agora disputada por Aben Hácen e pelo seu filho Boabdil (o infortunado) e em Málaga, nas montanhas, os cristãos tinham sofrido uma pesada derrota. Contudo, os mesmos cristãos, haviam conseguido capturar Boabdil em Lucena (uma das mais importantes batalhas da reconquista) e vencido os mouros em Lopera. Boabdil seria mais tarde libertado sob promessa de prestar vassalagem à coroa espanhola... imagino que não tenha caído bem aos mouros.
Ronda era agora a conquista fundamental para animar as tropas e... vingar Málaga! Para isso, os de Castela, teriam de vencer um dos mais temidos alcaides mouros - Hamet el Zegri – que já havia retirado em Coín e Lopera. Contudo, nem foi preciso ir tão longe, pois temendo a conquista de Málaga pelos cristãos, el Zegri saiu com uma guarnição para essa cidade. Quando regressou, viu Ronda ser sitiada e destruída por uma recém-chegada a esta guerra: a artilharia pesada. Sem conseguir dominar os cristãos pelo exterior, teve de abandonar os arredores de Ronda, sendo a cidade obrigada a capitular. A rendição permitiu a libertação de muitos daqueles que foram capturados na batalha de Málaga.
Hoje, Ronda ainda espanta todos os visitantes - gloriosa e altiva naquele morro singular e unida pela puente nuevo (construída muito depois da derrota moura, nomeadamente entre 1751 e 1793) que é hoje, uma das suas maiores atracções. Do coreto, é possível imaginar o cerco cristão e os exércitos conquistadores reunidos nas várias montanhas que rodeiam a cidade, as baterias de artilharia, bem posicionadas, tendo em vista a destruição das torres e das muralhas que defendiam o “morro”. Imagino a angústia daquelas gentes e dos “governadores” de Ronda no Palácio do Rei Mouro. A expectativa e o desespero naquelas varandas que enfrentam a dura rocha e que permitem uma vista sobre os vales e montanhas a sudeste da cidade.
Ainda é possível ver muito da Izn-Rand Onda muçulmana e facilmente se percebe porque é que Orson Wells e Hemingway ficaram tão fascinados com esta terra que não é só famosa pela sua Praça de Touros, para muitos a mais antiga do Mundo. Eu também fiquei fascinado e... não vou esquecer uma espécie de flash mob involuntária que seu deu perto da Calle Manuel Montero aquando do término desta e numa lateral da Igreja de Santa Maria Maior: assobiei, inocentemente, o Concerto de Aranjuez e tive a companhia de mais de metade dos indivíduos que se encontravam na praça... eram só uns 15, mas já foi qualquer coisa.
O Reino de Granada, esse, estava a ficar cada vez mais pequeno e, na verdade, a deixar-nos uma lição para o nosso dia-a-dia pessoal e profissional: se andamos muito ocupados com guerras de poder internas, provavelmente não vamos conseguir enfrentar as dificuldades externas, mesmo que tenhamos os melhores guerreiros e conheçamos o terreno como ninguém.
Fonte das Imagens: Prórpia
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