Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Imagens: Robinson Kanes
Faz-me favas com chouriço... O meu prato favorito... Quando chego para jantar... Quase nem acredito! Poderia ser a música de José Cid, mas não. Desta feita o Robinson foi à fava e sacou um belo entrecosto com favas, mentira, foi mesmo a alemã. A carne de porco não é uma das presenças mais habituais cá em casa, não obstante, um belo entrecosto bem temperado e uma favas, quem resiste? A receita também não é das mais complexas e acompanhada, mais uma vez, por uma Moretti, é de chorar por mais... Aprecio bastante a Nastro Azurro é mais difícil de encontrar por cá, embora em Santa Maria da Feira exista um distribuidor.
Para os que defendem que beber cerveja é coisa que não vai bem que um petisco destes, junto um pouco de atitude e nobreza ao prato e carrego com um "Pacheca". Um tinto de 2017 a trazer-nos de volta ao Douro. E o Douro, o que dizer...
E agora entro em mais um momento old school e sendo um apaixonado pelo Mediterrâneo e por Espanha, não posso deixar de me recordar de um dos maiores êxitos de Joan Manuel Serrat, "Mediterráneo". É música de velho, mas tendo em conta o que se ouve hoje. A propósito, Lena D'Água é a artista feminina do ano... Pronto, lá se vai o entrecosto pela goela acima. Como é que é possível que... Em Portugal o "choradinho", a família e os amigos nos locais certos fazem milagres. E convenhamos, um milagre de todo o tamanho, acho que nem Nossa Senhora foi capaz de atingir tão elevado grau de complexidade.
E antes que um cavalheiro me venha chamar burguês, passem num cinema e vejam o novo filme do sempre brilhante Elia Sulleiman "It Must be Heaven" ou como é conhecido por cá, "O Paraíso, provavelmente". Confesso que adorei este filme premiado em Cannes e onde me ri e fiquei a pensar... Em como lá, como cá, ficamos a pensar no que realmente muda. Top! Será o mundo realmente uma Palestina como disse o realizador?
Finalmente um livro... "A Lã e a Neve" de Ferreira de Castro. Os recentes incêndios na Covilhã despertaram-me para a memória deste livro. Tendo uma mãe beirã, entendo o que significa e amargura-me ver como a serra vai ardendo... Tempos difíceis os relatados no livro onde a esperança alterna com o desencanto.
E para pensarmos... Sobretudo tendo em conta os tempos actuais e um episódio em particular relacionado com bancos, uma frase de Manuel Vilas, um dos melhores da Espanha actual, que pode ser lida na sua obra "Ordesa": E quem é o Estado? É uma sobreposição amarelecida de vontades cansadas, que já não pensam, que pensaram há muitas décadas, e que a preguiça, que é a mãe da inteligência , perpetua.
Bom fim-de-semana,
P.S.: as mulheres de Braga "têêm" charme, aproveitem e levem uma às "Frigideiras do Cantinho"... Apesar da simpatia, pago-as sempre pelo que, a sugestão é baseada apenas no meu bom gosto, vá... Mesmo congeladas e depois aquecidas, ui...
Fonte das Imagens: Própria
Numa semana em que o negro da morte e da poluição andou um pouco por aí, é importante regressar ao branco... Ao branco, à palidez de algo vazio, algo puro, e onde tudo pode renascer.
Admito que a neve em excesso não me fascina, nunca fui adepto de destinos de neve e só consigo apreciar a mesma quando ainda conseguimos ver um pouco da folhagem das árvores ou então quando bem lá de cima, vimos as montanhas cobertas por um manto branco com um pico aqui e acolá. O contraste entre o verde ou o castanho com a neve, esse sim, é deveras encantador.
Além de que existe algo que se aproxima da magia e do som único que é o pisar de folhas... O som do pisar da neve, aquele "rac rac rac" que nos anuncia a chegada de alguém, por norma bem encasacado e encolhido, mas também com um sorriso no rosto ou então desejoso de partilhar o aquecimento numa conversa entre uma bebida quente e um bolo... Quiçá um chocolate quente e um pastel de nata, ou então um "Glühwein" acompanhado de um Trdelník ou da sua versão húngara, o "Kürtőskalács".
A neve lembra o Natal, sobretudo no pólo norte, mas lembra também dificuldades, sobretudo quando em excesso. Lembra também bons momentos passados na rua, com um frio que não lembra a ninguém, mas onde a brincadeira impera. A neve recorda-me sempre a imagem do Alhambra com a Serra Nevada ao fundo, com os seus cumes com neve e com aquelas nuvens que vão escurecendo a pouco e pouco até se tornarem ameaçadoras e descarregarem a sua força na cidade.
Recorda-me o contraste dos campos de alfazema e de como de um enorme manto branco surge toda aquela cor que nos apaixona quando percorremos a Provença e nos socorremos de um Calisson "Le Roy René" para retemperar forças.
Aquando da neblina, falei de Alberto Caeiro e dos "Poemas Inconjuntos"... Pois também na sua falta de conjunto, surgiu "A Neve Pôs Uma Toalha Calada Sobre Tudo":
A neve pôs uma toalha calada sobre tudo.
Não se sente senão o que se passa dentro de casa.
Embrulho-me num cobertor e não penso sequer em pensar.
Sinto um gozo de animal e vagamente penso,
E adormeço sem menos utilidade que todas as ações do mundo.
Alberto Caeiro, in "Poemas Inconjuntos"
Talvez, ao contrário do que nos dizia Caeiro, a neve coloque em nós um pano branco que nos faça também descolorar todo um pensamento e do zero criar novas raízes, novos caminhos desobstruídos, novos desafios e deixar que o cobertor apodreça entre o gelo do Inverno, e depois, o calor do Verão.
Como muitas aves que percorrem e perfuram a neve em busca de alimento, pois que, também possamos sair à rua e encontrar na neve algum alimento para o sorriso, para a brincadeira e para as memórias, até porque esta época não precisa de calor para ser perfeita, quando podemos fazer um enorme Carnaval a brincar na neve...
Bom fim-de-semana,
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.