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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Hoje não é dia de passar a ferro, afinal é Carnaval, ninguém leva a mal. É, contudo, dia de limpar a casa... os pêlos do Pastor Alemão não dão tréguas (e não tenho capacidade de apreciar a palavra "pêlos" sem acento circunflexo). Vem também aí o fim de semana, que promete ser chuvoso, pelo que me inquieta a banda sonora para o mesmo, e claro... para a nobre arte da faxina.
Têm sido tempos de muito pensar e, entre vassouras, esfregonas, panos e aspiradores, a melhor sonoridade que me surgiu foi... não, desta vez darei tréguas e tentarei fugir às grandes orquestras. No entanto, não vou fugir ao piano, e decidi escolher o Sr. Michael Nyman, um cavalheiro que admiro e que me transporta para dimensões que, pontualmente, nem eu consigo explicar. Não me canso de o ouvir e ver ao vivo. Escolho “Love Doesn’t End” – por sinal, banda sonora de um filme, “The End of the Affair”.
Entre panos e o pó, talvez para pensar se o Amor nunca acaba efectivamente... se pode perdurar ou se... simplesmente morre, como tudo nesta Terra.
Vergílio Ferreira costumava estranhar que as pessoas dissessem que não existia amor como o primeiro, questionava-se, contudo, pelo facto de, ao não existir amor como o primeiro, porque é que este também não era o último? Ou será que o primeiro amor não obedece a uma razão lógica e organizada da vida? Terei tempo enquanto vou ouvindo “Love Doesn’t End”... ignorem o vídeo e escutem a música...
Mas, uma sexta-feira, fria e molhada, não seria uma sexta-feira sem um filme e, posto que me sinto a ficar lamechas, o que nem encaixa muito na minha forma de ser, vou-me abandonar ao Império do Sol. Este é um filme de 1987, com Christian Bale e o grande John Malkovich, sem esquecer o Sr. Spielberg na realização. Não vou falar muito do filme, senão que é uma história incrível e conhecida por todos. Prefiro o enfoque, na cena em que o jovem Jim entoa o Suo Gan. Confesso que vi o filme ainda criança e bem depois de 1987, no entanto, aquele momento marcou-me ao ponto de ter uma paixão pelas “Evensong” de Londres, seja em Westminster ou na St. Paul's Cathedral. Poder assistir aos coros, cuja magia ecoa por paredes tão frias e as aquece num conforto que só experienciado se pode sentir, é algo singular. Deixo-vos por isso com uma das cenas mais marcantes do filme e, também, com o coro do King’s College.
Bom Fim de Semana... Bom Carnaval... e... se chover... Molhem-se...
Fonte da Imagem:http://www.listal.com/viewimage/8702194
Michael Nyman - "Love Doesn't End"
Cena do Filme "O Império do Sol"
O Coro do King's College em Cambridge
Horácio dizia algo como isto - “minuentur atrae carmine curae” - ou seja, a “música ajuda as mentes perturbadas”. Só descobri isto quando o meu professor de latim me confrontou com tal frase e, desde então, tem-me acompanhado, sobretudo, quando a mente anda mais em turbilhão.
Hoje, em casa, num dia menos bom, lembrei-me de Horácio e de como seria importante fazer uma arrumação na minha mente. Confesso que não é fácil, por isso acabo de decidir arrumar a casa. A casa... como o nosso pequeno ovo e a sua respectiva arrumação, nos ajudam a arrumar também o que nos vai na cabeça! É óbvio que também permite eliminar alguns maus cheiros, limpar o pó e fazer com que um Pastor Alemão gigante enfrente o aspirador como se, o último, de um larápio se tratasse.
Aqui, sentado, ainda a escrever, já escolhi a banda sonora para esta arrumação, pelo menos a de casa: encontrei, em Ennio Morricone, a minha salvação. Escuto Morricone desde que me recordo de ter capacidade de escolha nas minhas paixões e honestamente... nunca mais larguei o velho maestro e compositor. Só me arrependo de nunca ter assistido a um concerto ao vivo e, com a idade do senhor, temo que isso não venha a suceder.
Sinto que, para hoje, entre um fim e uma necessidade de recomeço vou-me ficar pela “Cera Una Volta Il West”, composição a que o filme de 1968, “Once Upon a Time in the West/Era Uma Vez no Oeste”, dá o nome.
Para situar quem possa não conhecer, é mais um daqueles filmes a que se convencionou chamar spaghetti western na senda dos western italianos que tinham a assinatura de Sergio Leone. Confesso que, quando o vi pela primeira vez, nunca consegui perceber o sofrimento da Sra. McBain (Claudia Cardinale) e aquele olhar sempre muito peculiar de Harmonica (Charles Bronson). No fim, é impossível não simpatizar com o Sr. Bronson (apesar do seu mau feitio) porque lá conseguiu acabar com a maldade de Frank (Henry Fonda). Não falta informação sobre o mesmo na internet.
A Sra. Mcbain é a mãe que perde tudo, que é violada (marido e três filhos assassinados) e necessita de recomeçar algo de novo com uma dor imensa. No entanto, à sua volta, o que não falta são vilões (mal ela sabe que alguns deles os seus melhores companheiros). Harmonica e sobretudo Cheyenne (Jason Robards) são quem lhe vai dar algum auxílio, e sim, são uns vilões com melhor coração. No fim, é a luta pelas terras para a construção do caminho de ferro e a “vingança” de Harmonica que dominam o filme e... a difícil mudança de vida encetada pela Sra. Mcbain.
E com isto, começo a pensar que devo ter nascido fora do meu tempo (tenho de reflectir sobre isto).
Mas a música! Essa coloca-nos perante alguma tristeza mas também nos dá alguma força para chegar ao fim com a casa arrumada e, quem sabe, com a vassoura e a pá em frente à porta da nossa mente. E aí, posto que as limpezas levam tempo, escuto, ainda em registo Ennio, “Speranze di Libertà”. Esta é uma banda sonora penosa, de outro filme - “Sacco and Vanzetti” - de Giuliano Montaldo e que data de 1971. Aqui, conta-se a história e julgamento, com pena de morte, de dois imigrantes anarquistas italianos nos Estados Unidos dos anos 20. Muito a propósito, após algumas políticas recentemente adoptadas no outro lado do Atlântico.
Deixo-vos as duas composições e, porque não, os votos de um bom fim de semana...
...e já agora...
...se vos for possível, saiam para a chuva!
Fonta da Imagem: Própria
Ennio Morricone - Cera Una Volta Il West
Ennio Morricone, Speranza di Libertà
Eugène Delacroix, Retrato de Frédéric Chopin/Fryderyk Chopin (Museu do Louvre)
Hoje é Sábado... pensei em não vir escrever mas quando cheguei ontem a casa deu-me uma tremenda vontade de limpar o pó e aspirar. É daquelas coisas às quais não se resiste, é algo tão... bom!
Mangas arregaçadas e uma ida ao móvel para encontrar a banda sonora! E agora que me caiam os pseudo-melómanos, os intelectuais vanguardistas e todos os outros que me queiram achincalhar numa qualquer calçada deste país... escolhi Chopin, nomeadamente os concertos para Piano nº1 e nº2... maldito povo que fazes uso de Chopin para limpar o pó, mas... a música afinal não é democrática?
Sim, Chopin pode ser uma fantástica escolha para acompanhar a limpeza do pó da casa! Mas no meio de toda aquele momento cavalheiresco de faxina algo me fez sentar no sofá e ficar a ouvir... o Concerto nº2.
Nisto, dou comigo a “levitar” e deu-me uma enorme vontade de perceber a origem do mesmo. Fui descobrir que o Concerto nº2 era afinal o Concerto nº1! Sim, na verdade, este concerto foi composto primeiro que o Concerto nº1 de Chopin aos 20 anos, mais precisamente em 1830! Foi neste ano que, perante a opressão russa do Czar Nicolau I, Chopin foi obrigado a deixar Varsóvia (a 10 km da sua terra natal Zelazowa Wola) e a ir para Viena, seguindo-se Paris. Aliás, foi uma espécie de desorganização de Chopin, nas viagens entre Varsóvia, Viena e Paris que, levou à “confusão” na atribuição dos números aos concertos.
Se, por um lado, pelos pseudo-especialistas, os concertos para piano de Chopin não são considerados a sua obra-prima, por outro devo dizer que o contexto em que, desta vez, escutei tamanha obra me criou uma identificação particular com a sonoridade e acima de tudo com a história que rodeou a mesma...
Após a partida de Varsóvia, Chopin disse: “Maldito seja o momento da minha partida” e, enquanto os seus eram esmagados disse também, já em 1831 “Oh meu Deus, vocês estão aí e, mesmo assim, não se vingam”...
Bem a propósito... e pronto, perdoem-me este momento à Antena 2, mas no "bairro" também se pode gostar do que é bom...
Fonte da Imagem: Própria.
Deixo o Concerto para quem não tiver mais nada que fazer este fim de semana... a conduzir a orquestra o grande André Previn e o ainda maior (ao piano) Arthur Rubinstein, com 87 anos e quase cego... nada mau.
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