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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Créditos:https://www.straitstimes.com/sport/football/football-pope-francis-remembers-fellow-argentine-maradona-affectionately-praying-for
A política do espectáculo oculta os problemas de fundo, substitui pelos programas o encontra da personalidade, embrutece a capacidade de raciocínio e de juízo em proveito das reacções emocionais e sentimentos irracionais de atracão e antipatia (...) os cidadãos são infantilizados, deixam de se envolver na vida pública, ficam alienados, a Democracia é desnaturada e pervertida.
Gilles Lipovetsky, in "O Império dao Efémero"
Como é interessante que Maradona tenha encontrado a morte no "Dia Internacional para a Violência contra as Mulheres" e também no mesmo dia em que morreu Fidel Castro. Estranha coincidência... Perdoem-me, todavia, que não alinhe na choradeira global, até porque nunca participaria numa festa de arromba com Pablo Escobar na "La Catedral".
Para mim, um jogador de futebol é um jogador de futebol... Como é qualquer outro profissional, mas entendo as emoções de alguns que assim ultrapassam o racional. É interessante, cómico até, que na actualidade, onde muitos escrevinham, gritam e se revoltam para combater a violência contra as mulheres, se tenham esquecido, precisamente neste dia, que Maradona foi alguém conhecido por, passo a expressão, arrear nas companheiras. Aqui está um exemplo...
O chorrilho de argumentos (incidindo nas drogas, o resto não é bom trazer para a praça) para desculpar o passado negro de Maradona chega a ser assustador. Os mesmos que chamam criminoso, desprezível ao vizinho do lado porque bateu com a porta do carro no nosso, são os mesmos que agora aplaudem a chegada de Maradona aos céus na metáfora da entrega da mão a Deus, são aqueles que agora estão tristes e revoltados... Querem revolta? Eu ajudo com um pequeno exemplo: revoltem-se com o facto de ainda não existirem responsáveis pelo que se passou em Pedrogão e no Centro do país onde mais de uma centena de compatriotas morreu por irresponsabilidade nossa - somos o Estado.
Maradona defendeu regimes totalitários... Maradona, alegadamente, abusou de menores... Maradona agrediu companheiras... Maradona foi alguém viciado em drogas e álcool... E a lista poderia continuar! Até podemos compreender a questão das drogas e da bebida... Todavia, tenhamos essa compreensão com todos os que passam pelo dilema, o que nem sempre sucede.
Andamos todos a partilhar imagens, sons e letras contra tudo isto, mas de repente, aplaudimos estes heróis quando vivos e sobretudo quando mortos! Deitamos estátuas abaixo mas depois erguemos autênticas e colossais estruturas (mentais e físicas) a indivíduos como Maradona. Mas era um bom jogador de futebol! Lembrem-se disso quando um jogador seja lá do que for, ou um profissional de outra área vos agredir ou dormir com as vossas filhas menores. Afinal sempre pode alegar que é bom naquilo que faz!
De repente, o hype da violência contra mulheres que muitos já tinham na ponta da língua para ficar bem nas redes e na sociedade, foi ultrapassado exactamente pelo seu contrário... Como hoje em dia mudam as prioridades e as convicções numa tentativa de dar às nossas paixões um lugar mais alto que à verdade, como defenderia Tagore... E também como defenderia o mesmo autor, isso é somente um grande sinal de servilismo.
Como afirmaria (citando um outro) um indivíduo que é pago a peso de ouro com os nossos impostos na televisão pública e com fama de não ser propriamente o mais simpático com os colaboradores, "se yo fuera Maradona, vivería como él"... Caro Carlos Daniel, Director-Adjunto da RTP, eu nunca viveria como Maradona... Não gostaria de tirar fotografias com meninas adolescentes a tocarem-me no pénis, não gostaria de bater na minha companheira, não gostaria de ser traficante e consumidor de drogas e nunca me passaria pela cabeça defender regimes totalitários... Se isso a si o fascina, está no seu direito. A mim, o que me fascina é o comportamento e podridão de muitos nesta sociedade tão evoluída mas também tão bafienta e hipócrita. Acredito, no entanto, que muitos dos que irão ler as suas palavras, não irão pagar a conta da electricidade/taxa audiovisual este mês e nos próximos!
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