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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Imagens: Robinson Kanes
A manhã estava quente, o mês de Agosto por terras do Baixo-Tâmega não costuma ser suave. Deixava Cabeceiras de Basto e estacionava as quatro rodas na Estação de Caminho-de-Ferro do Arco de Baúlhe, freguesia do mesmo concelho. Todavia, mesmo ali ao lado do Museu das Terras de Basto, uma interessante recuperação da estação ferroviária (encerrada em 1990). O objectivo deste dia era chegar a Amarante de duas rodas percorrendo a Ecopista do Tâmega, umas das mais belas e que mais me surpreendeu. Sobretudo porque tinha uma parte do percurso em terra batida por causa das obras da barragem.
A Linha do Tâmega, foi inicialmente denominada de Caminho de Ferro do Valle do Tâmega, ligava a estação de Livração (Marco de Canaveses), da Linha do Douro, à Estação de Arco de Baúlhe em Cabeceiras de Basto. Esta foi desactivada em 1990 o que veio a dar na actual ecopista que liga Amarante a Arco de Baúlhe (troço Livração-Amarante não está disponível).
Em 2007 as Autarquias envolvidas, a REFER (agora Infraestruturas de Portugal) e o Estado assinaram um protocolo que resultaria na construção da Ecopista da Linha do Tâmega, uma via que atravessa três Municípios ao longo de 50 quilómetros, Amarante, Celorico de Basto e Cabeceiras de Basto.
Esta Ecopista percorre uma das mais belas linhas ferroviárias do país, permitindo o contacto directo com o património histórico e natural envolvente, nomeadamente as muitas aldeias e pontes que encontramos ao longo de toda a sua extensão, as paisagens verdejantes de inigualável beleza e oRio Tâmega, ex-líbris desta região. Este projecto, que se inclui na Rede Europeia de Vias Verdes, tem o seu início ao km 12,467, na cidade de Amarante, e término ao km 51,733 no Arco de Baúlhe.
Começo a etapa que levaria 100 quilómetros. A extensão oficial do trajecto é de 39 km, ou seja, um percurso ida-e-volta pode ficar pelos 80/85 km.
Começar no Arco é já um bom motivo para fazer o percurso, a beleza da estação é qualquer coisa e os primeiros quilómetros apetecem, com pequenas inclinações, nada de muito difícil até Vila Nune e com uma passagem por cima da A7 onde temos uma vista de montanha e vales com algumas passagens por zonas de vinha - o Tâmega não anda longe. A paragem seguinte é no Apeadeiro de Canedo, e aqui começamos a encontrar as belas estações que se mostravam ao longo da linha. Com esta imaginação sempre fértil, não consigo deixar de pensar no bulício, embora mais contido, que outrora caracterizara aquele lugar. Se há coisa que me deixa num misto de paixão e tristeza são as estações desactivadas. Devem ser dos locais com mais histórias para contar, não só pelos que frequentavam as mesmas mas também por aqueles que ainda lá viveram. Ainda tive oportunidade de conhecer alguns, sobretudo na zona Centro e as histórias são tantas. Talvez tema para um destes dias...
Senhores passageiros, a próxima paragem será Mondim de Basto, passando ainda por Padredo. Não existirão passeios tão encantadores como este quando por um caminho lindíssimo em que pelo meio de hortas, pequenos lugares, alguns monumentos, temos sempre a companhia do Monte da Senhora de Graça, o que, para quem estiver de bicicleta ainda tem um gosto mais especial. É como se subíssemos o Monte de uma outra forma, é como que desta vez não fosse propriamente uma luta entre o homem e altitude, mas um passeio lado-a-lado. Simplesmente deslumbrante! É também no concelho de Mondim de Basto que encontramos algumas das mais interessantes vistas do percurso e a belíssima estação - além de outras, pensei em tempos num projecto para a mesma tal a beleza da infraestrutura bem como as vistas e a proximidade com as duas pontes que são um dos atractivos do percurso. Passaria dias inteiros à varanda da estação, com um Hendrick's e um livro a apreciar aquela paisagem.
As Terras de Basto têm um encanto tão especial, sobretudo no território de Cabeceiras de Basto e Ribeira de Pena onde já não temos sequer noção de estar no Minho e nos sentimos transmontanos. Nas pessoas, quer pela sua austeridade e bravura quer pela simpatia e humildade, não há como negar o lado mais transmontano. Não falarei de gastronomia porque aí, de facto, é mais que notório e a passagem a Montalegre, por exemplo, nem se faz notar quando entramos em Salto.
Mondim atrasa-me as contas em termos de horário, além disso, esperam-me as iguarias da Dona Lídia no regresso a Cabeceiras, mais propriamente para os lados de Cavez. Vou chegar atrasado, tenho a certeza...
Continua...
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