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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Horácio dizia algo como isto - “minuentur atrae carmine curae” - ou seja, a “música ajuda as mentes perturbadas”. Só descobri isto quando o meu professor de latim me confrontou com tal frase e, desde então, tem-me acompanhado, sobretudo, quando a mente anda mais em turbilhão.
Hoje, em casa, num dia menos bom, lembrei-me de Horácio e de como seria importante fazer uma arrumação na minha mente. Confesso que não é fácil, por isso acabo de decidir arrumar a casa. A casa... como o nosso pequeno ovo e a sua respectiva arrumação, nos ajudam a arrumar também o que nos vai na cabeça! É óbvio que também permite eliminar alguns maus cheiros, limpar o pó e fazer com que um Pastor Alemão gigante enfrente o aspirador como se, o último, de um larápio se tratasse.
Aqui, sentado, ainda a escrever, já escolhi a banda sonora para esta arrumação, pelo menos a de casa: encontrei, em Ennio Morricone, a minha salvação. Escuto Morricone desde que me recordo de ter capacidade de escolha nas minhas paixões e honestamente... nunca mais larguei o velho maestro e compositor. Só me arrependo de nunca ter assistido a um concerto ao vivo e, com a idade do senhor, temo que isso não venha a suceder.
Sinto que, para hoje, entre um fim e uma necessidade de recomeço vou-me ficar pela “Cera Una Volta Il West”, composição a que o filme de 1968, “Once Upon a Time in the West/Era Uma Vez no Oeste”, dá o nome.
Para situar quem possa não conhecer, é mais um daqueles filmes a que se convencionou chamar spaghetti western na senda dos western italianos que tinham a assinatura de Sergio Leone. Confesso que, quando o vi pela primeira vez, nunca consegui perceber o sofrimento da Sra. McBain (Claudia Cardinale) e aquele olhar sempre muito peculiar de Harmonica (Charles Bronson). No fim, é impossível não simpatizar com o Sr. Bronson (apesar do seu mau feitio) porque lá conseguiu acabar com a maldade de Frank (Henry Fonda). Não falta informação sobre o mesmo na internet.
A Sra. Mcbain é a mãe que perde tudo, que é violada (marido e três filhos assassinados) e necessita de recomeçar algo de novo com uma dor imensa. No entanto, à sua volta, o que não falta são vilões (mal ela sabe que alguns deles os seus melhores companheiros). Harmonica e sobretudo Cheyenne (Jason Robards) são quem lhe vai dar algum auxílio, e sim, são uns vilões com melhor coração. No fim, é a luta pelas terras para a construção do caminho de ferro e a “vingança” de Harmonica que dominam o filme e... a difícil mudança de vida encetada pela Sra. Mcbain.
E com isto, começo a pensar que devo ter nascido fora do meu tempo (tenho de reflectir sobre isto).
Mas a música! Essa coloca-nos perante alguma tristeza mas também nos dá alguma força para chegar ao fim com a casa arrumada e, quem sabe, com a vassoura e a pá em frente à porta da nossa mente. E aí, posto que as limpezas levam tempo, escuto, ainda em registo Ennio, “Speranze di Libertà”. Esta é uma banda sonora penosa, de outro filme - “Sacco and Vanzetti” - de Giuliano Montaldo e que data de 1971. Aqui, conta-se a história e julgamento, com pena de morte, de dois imigrantes anarquistas italianos nos Estados Unidos dos anos 20. Muito a propósito, após algumas políticas recentemente adoptadas no outro lado do Atlântico.
Deixo-vos as duas composições e, porque não, os votos de um bom fim de semana...
...e já agora...
...se vos for possível, saiam para a chuva!
Fonta da Imagem: Própria
Ennio Morricone - Cera Una Volta Il West
Ennio Morricone, Speranza di Libertà
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