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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Imagem: https://www.pinterest.pt/classical826/il-gattopardo/
Foi na quarta-feira que tive a oportunidade de rever o filme baseado na obra de Giuseppe Tomasi di Lampedusa: "Il Gattopardo". Mais um filme de se lhe tirar o chapéu do mestre Visconti (sem esquecer a banda sonora de outro mestre: Nino Rota). Com o Nimas totalmente ocupado, respeitando o devido distanciamento, aquele momento foi mais um daqueles em que viajamos pela Itália profunda e pela Sicília, terra apreciada pelos cineastas italianos e também berço de muitos.
Em relação à película, estar vivo e não ter visto a mesma, é como já ter morrido. Com efeito, agora com outra maturidade, recordo as palavras de Fabrizío (interpretado pelo magnifíco Burt Lancaster), aquando da sua visão da Sicília: “I siciliani non vorranno mai migliorare per la semplice ragione che credono di essere perfetti; la loro vanità è più forte della loro miseria.”.
Por momentos, senti a pele e a alma a envelhecerem-me, a tomarem conta de um aspecto ainda jovem em mim e a tornarem-me desencantado por uma nação, tal como o Princípe de Salina. Nesta espécie de exaltação e de show, de ineptas personagens aos pulos em busca de, sento-me num chesterfield, algures no Palazzo Valguarnera Gangi, e partilho da desilusão daquele nobre que afinal, antes de tudo e todos, percebeu que a saída de uns e a entrada de outros, só permitiu mudar algumas personagens e conceder algum poder a - mas na realidade, tudo ficou na mesma. Até mesmo o Conde de Tancredi, aquele que lutou a favor de Garibaldi e "desonrou" a nobreza se deixou levar pela não mudança. Também aqui vi Portugal, vi até parte da minha Espanha e de facto, reconheci que para evitar a contaminação dos deuses que preferem a apatia e o provincianismo da sua mentalidade, sair aos 20 anos do rectângulo já é sair tarde, pois algumas crostas entretanto se formam e podem dificultar o processo.
Talvez tenha ganho maturidade (e aqui tenho sérias dúvidas, não chego lá tão cedo) e esteja em crer que, como dirão os psicólogos clinícos, o paciente tem de ser o primeiro a querer a cura da sua perturbação - talvez tenha de me convencer nisso e desistir do doente. Talvez assista ao baile, talvez não... Talvez troque a casaca real pela casaca de Garibaldi e continue a lutar e a acreditar mesmo quando a ataraxia está por todo o lado, ou talvez queira estar sozinho a percorrer um qualquer quelho em Palermo, pois desejando, como um certo Lobo de Hesse, "música em vez de chinfrim, felicidade em vez de divertimento, alma em vez de dinheiro e verdadeiro trabalho em vez de bulício, paixão em vez de brincadeira", por certo, não é nestas fronteiras que encontrarei o meu lar. Talvez em Céfalu, aquele lugar junto ao mar onde nos esperarão os nossos amigos romanos, uma bela salada ao pequeno-almoço e um dos mais belos "tramontos" do Mundo. Talvez em Palermo ou mesmo em Bagheria sentados numa qualquer esplanada do Corso Italia... Talvez por aí...
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