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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Imagens: Robinson Kanes
O mar começa a ficar para trás e eis que Cangas de Onís fica à nossa frente. Este destino, como aquele que nos espera imediatamente a seguir, são muito conhecidos do grande público, talvez por isso a nossa base tenha ficado ligeiramente distante daquela localidade, em Labra.
Isto não impede que possamos beber uma sidra, comer queijo e continuar a provar o que de bom se faz nas Astúrias. Passamos obrigatoriamente pela ponte romana e tiramos uma fotografia, é rápido... Não somos adeptos de selfies ou de registarmos a nossa presença no local. Caminhamos por Cangas de Onís e como não poderia deixar de ser perdemo-nos em compras: queijo (Cabrales, Gamonéu e Beyos...), verdinas (e que boas ficam aquelas feijoadas de chocos e camarão), lentilhas pretas e um sem número de coisas que vamos metendo no saco! "La Barata", a loja com muito bom gosto onde adquirimos os produtos torna-se cara dado o volume nos sacos...
"Marcamos" o jantar, deixamo-nos ir pelo cheiro a sidra e a vinho e aterramos na recomendação que o nosso anfitrião em Labra - a pequena e pistoreca aldeia asturiana a 8 quilómetros de Cangas - nos aconselhou. Ah! "Casa Pinin" ou também "El Polesu", como são conhecidos - o verdadeiro tasco que nós amámos e onde insistiam no nosso sotaque de Girona (mais uma vez).
Entretanto, e porque o dia é longo passamos pelo Santuário de Covadonga... Também é daquelas visitas obrigatórias, embora só pense em subir ao monte que se encontra em frente para poder observar as aves mais de perto e tentar imaginar quão dura terá sido a Batalha de Covadonga - a "primeira" vitória cristã após a invasão árabe por terras da "Hispânia" e onde os Islâmicos do Califado de Omíada saíram derrotados, para desespero de Munuza. O vencedor, o nobre visigodo Pelágio, ainda hoje é recordado ou não tivesse sido o primeiro rei do reino das Astúrias, na época com capital em Cangas de Onís. Deambulamos pela área, nota-se a presença de muitos turistas, o que é normal. Desejamos, contudo, que a maioria não pense em ir aos lagos. E não vai...
Ainda pensamos em fazer o caminho a pé (24km ir e vir, sendo que metade é sempre a subir)... Sobra-nos "pouco" tempo e queremos aproveitar os altos ao máximo e poder explorar a fauna. Como não é possível a deslocação pelos nossos meios de transporte, apanhamos o único autocarro que faz a ligação ao topo das montanhas - a viagem não é barata, mas manobrar um veículo pesado daqueles, em tais condições, não é para todos. Além disso, aquilo com que nos deparamos não tem preço.
As vistas, ao longo do caminho, são de cortar a respiração, não conseguimos estar quietos... A chegada e os lagos: o "Enol", o "La Ercina" e até o "El Bricial" (só visível em certas alturas do ano) lá estão à nossa espera. Não são lagos gigantes e grandiosos, todavia, são lagos bem no alto da montanha, desenhados para encaixar perfeitamente naquele monumento natural que é a Serra de Covadonga. No "Enol" a cerca de 1000m de altitude, dizem que no fundo das suas águas se encontra a virgem de Covadonga, que aí zela pelos seus bem lá no alto/fundo. O "La Ercina" fica a mais 100m de altitude e é mágico ver o gado nas margens do mesmo, cria uma imagem pitoresca e totalmente diferente daquela que já tivemos na Áustria, Suiça ou até mesmo Açores... Em cada local o seu encanto.
Uma manada começa a afastar-se, seguimo-los com as devidas cautelas, é uma área altamente protegida. O gado sabe sempre para onde vai e informa-nos sempre dos melhores caminhos. Preparamo-nos para a aventura, pois entre raios de sol alterna um nevoeiro denso e uma chuva intensa, além disso começamos a caminhar para o interior da montanha e os visitantes dos lagos começam a ser uma mera miragem ao longe.
Seguimos um caminho e encontramos um especialista em preservação de aves na sua pick-up. Interpela-nos e pergunta-nos do nosso interesse por aquelas bandas. Lembramos que estamos por lá para apreciar a montanha, para usufruir de um dos mais belos recantos da natureza, onde cada vento conta uma história antiga de pessoas, vivências entre montanhas e dos diálogos da natureza protagonizados pelo mar e pela montanha. No entanto, também revelamos o objectivo principal: observar a Águia Imperial Ibérica (Aquila adalberti) - adalberti em homenagem ao príncipe Adalberto da Baviera.
Existem em nós muitas paixões em termos de fauna na Ibéria e talvez as maiores sejam o Lobo Ibérico (Canis lupus signatus), a Águia Imperial Ibérica (Aquila adalberti) e a Garça Real (Ardea cinerea). Existem mais, os ursos, por exemplo, e um sem número de espécies que simplesmente nos fazem percorrer muitos e muitos quilómetros e até, enfim, envolvermo-nos em algumas "missões de salvamento".
Mas esta águia, o gado e toda a fauna por alí encontrada será tema para outro artigo... Agora é tempo de dizer adeus ao nosso anfitrião da montanha, que nos disse ser um óptimo dia para observar as aves. Aproveitamos para recuperar forças e atacar as bananas e as maçãs. Alguma chuva, os rostos ficam molhados e acabamos por dispensar a água porque cada gota é um pouco das Astúrias, traz o cheiro do ar, da terra e da natureza... Queremos aproveitar e beber o que nos vem dos céus.
Agora permitam-nos e deixem-nos ir em busca das rainhas dos céus...
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