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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Fonte da Imagem:http://image.sciencesource.com/preview/JF4203-Spanish-Inquisition-Burning-Heretics-at-Stake.jpg
Ainda alguém se lembra de uma avioneta que aterrou de emergência numa praia da Costa da Caparica a semana passada? Pelo meio houve futebol, estamos em tempo de praia e a nossa cabeça já não é comandada por outrem porque já não se fala disso nos media. A vantagem de não ter televisão, não acompanhar blog tags e não acompanhar também os meios de comunicação nacionais é que sabemos de algumas coisas em diferido... E isso é bom, pois a poeira já assentou e as personagens de um qualquer "Resident Evil" já recolheram aos covis, além de que o admirável mundo novo das hashtags torna-se menos contagiante.
Por vezes, tenho a sensação que vivemos num país de cobardes... Reparem como um país pediu a cabeça e o sangue de um instrutor e de um aluno de aeronáutica aos comandos de um avião que "perdeu" o motor mas parece, entretanto, ter permitido que as mortes dos incêndios sejam esquecidas... Ou até que o dinheiro dos seus donativos ande por aí sem destino... É mais fácil bater num cidadão anónimo do que num criminoso com nome e sempre nos permite assinar por baixo o nosso estado de miserabilidade social.
Parece que nada mudou e continuamos a canalizar a nossa raiva para os mais fracos... Nada mudou desde que se apedrejavam e queimavam seres-humanos no Terreiro do Paço porque não havia coragem para questionar a alta autoridade real e eclesiástica (agora lembrei-me dos milhões da Cáritas). Não só continuamos a ter o mesmo espírito, como também começo a sentir que qualquer dia tenho um dominicano e um sem número de populares atrás de mim com um machado só porque existo, qual personagem do "Último Cabalista de Lisboa", de Richard Zimler.
Mais grave: fui procurar informação sobre esta temática e dei com "comentadeiros" e "pseudo-jornalistas" a tecerem considerações sobre pilotos, decisões e comportamentos dos mesmos, descrevendo taxativamente que os acidentes aéreos ocorrem porque estes se têm em boa conta e só fazem acrobacias... Honestamente, este tipo de notícias, comentário ou linchamento público vindo por parte de um jornalista deveria provocar a entrega da carteira profissional... A estes deixo uma nota: trabalhem uns tempos em aviação depois falem sobre a mesma ou pelo menos façam aquilo que um jornalista tem de fazer: procurar fontes e informação e responder às questões básicas ao invés de ventilar veneno para os mais fracos e encontrar muitas dessas fontes no ressabiamento das redes sociais... Talvez percebam que em aviação o double-check (quando não é triple ou mais) é uma regra seguida por todos, ao contrário do que vai sucedendo na actuação de alguns jornalistas. Reina a sensação de impunidade, também no jornalismo, e não parece existir grande vontade em acabar com isso...
Espero também que a fúria destes sedentos por sangue (jornalistas e cidadãos sem capacidade de pensar pela sua própria cabeça) seja transportada para as manobras altamente perigosas que são praticadas nas nossas estradas... Talvez comece uma guerra civil e ninguém fique por cá! Andamos todos preocupados com uma criança de 8 anos que morreu devido a um acidente aéreo mas não nos preocupamos com aquelas que morrem todos os dias nas estradas por nossa incúria, negligência e acima de tudo estupidez! Não é por gastarmos centenas de euros na "cadeirinha" de última geração que protegemos a nossa adorável criançinha de uma embate a 180km/h.
Finalmente, sou levado a pensar que o grande problema se deveu ao facto da aterragem ter ocorrido na Costa da Caparica, bem perto de Lisboa e sobretudo numa praia - aquele local amado pelos portugueses no Verão... Se caísse em cima da casa de alguém em Sendim ou em Santa Eulália ninguém quereria saber.
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