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Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Nos últimos anos, talvez porque não seja propriamente um ancião, tenho sentido que o Natal e o Ano Novo se assemelham àquelas conquistas que depois de concretizadas perdem o interesse. Uma espécie de... “desejo-te tanto... ai como te desejo, quero-te na minha cama” e que, após a consumação do acto ou um dia a conviver com a outra parte, perdem todo o interesse.
Se repararem, a euforia do Natal, por exemplo, começa em Outubro! Em finais de Outubro já são muitos os que pensam no Natal, que correm a comprar pinheiros e bolas de Natal, que compram tudo e mais alguma coisa, para terem a impressão de que aquilo que compram ninguém mais vai comprar. Em minha opinião, até o dia de Finados ganhou outra cor com o cheiro a Natal, e mais tarde ou mais cedo vamos ter de colocar presentes nas campas de quem já partiu... eu sugiro uns perfumes ou um “Pronto” para limpar o pó.
Chega Dezembro e é a euforia... não se comprou tudo e é preciso continuar naquela luta... chegam os jantares, somos todos amigos, são as músicas, é o “Feliz Natal”, o “Boas Festas”, o sorriso na cara e a face de raiva nas filas dos centros comerciais.
Chega o Natal, aliás, a véspera de Natal, e eis que se consuma o primeiro acto de conquista... come-se, abrem-se prendas, perdão, presentes... e volta-se a comer no dia de Natal e já passou... agora é preciso pensar no Ano Novo. Não importa esquecer que no dia após o Natal já se assiste ao tradicional “então, esse Natal?” e à respectiva moeda de troca “foi bom, não gosto muito desta época, mas tem de se passar”. Claro que esta narrativa se aplica aos que ainda se lembram que o Natal foi “ontem”.
Chega o Ano Novo, vem a febre do marisco, do leitão, da bebida, da loucura e da euforia do dia 31 - “vou ser livre, vou percorrer o mundo de bicicleta, vou emagrecer, vou correr, vou... vou... vou...” - não vão nada! Deixem-se disso, tiveram um ano e mais para pensar nisso e o que fizeram? Nada!
No entanto, chega o dia 1 e a ressaca é tal que já todos se esqueceram do que haviam prometido a si próprios há umas horas.
Mas o que me irrita, confesso, é o espírito do dia 2 com o “então essa passagem de ano?”... e eis que se segue aquele... “passou-se... mais um ano”. Asco da minha parte em relação a todos os que proferem tamanhas palavras... “passou-se” dizem eles... “passou-se” com aquele rosto de cara de atum!
É a cara de atum que se apossa das ruas, dos locais de trabalho, a cara de peixe cozido ou de pargo capatão que toma o lugar no trânsito, nas ruas e nos transportes públicos.
Confesso que fujo na época pós-passagem de ano e corro para Espanha... pelo menos, por lá, a festa dura até aos Reis (se é que se pode dizer que em Espanha a festa chega propriamente a acabar). Enquanto por cá, com aquele ar de cara de atum se desmonta a árvore de Natal à pressa, qual lei que proíbe o prolongamento de tamanha prática após o dia 6 ou o dia 1.
Pode ser que o Carnaval dê para fazer uma “ponte” ou então a Páscoa, caso contrário vamos andar com cara de atum até às férias “grandes”!
Não precisamos de andar sempre a falar do Natal ou do Ano Novo, mas convenhamos... lá porque já passou, podemos prolongar o espírito positivo, não?
Para semblantes pesados já bastam as tristezas da vida que, quando comparadas com as de outros, não são nada. Reencontrem a vossa maturidade, como dizia Nietzche em “Para Além do Bem e do Mal”, e nela reencontrem também a seriedade que se teve nas brincadeiras de infância.
Fonte da imagem: http://kireipescados.webnode.com.br/products/atum-fresco-bati/
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