Saltar para: Post [1], Comentários [2], Pesquisa e Arquivos [3]
Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Fonte das Imagens: Própria
Após tomarmos um chá na Sala dos Embaixadores, o Zagal convida-me para um passeio pelo complexo. Interessante ouvir este guerreiro que demonstra uma vontade inultrapassável de defender o reino a todo o custo, inclusive encontra-se disposto a matar o sobrinho Boabdil se tal for necessário.
O Zagal conta-me a história de Boabdil, “El Chico” que à nascença trouxe marcada a queda do reino. Fala-me das indecisões e da aproximação ao reino de Castela a que também fui aludindo ao longo desta aventura. É alguém apaixonado pelo seu povo e isso nota-se pela forma como trata os guardas do palácio, com um respeito e nobreza tais que ficamos sem saber quem é o verdadeiro Governador do Reino.
Saímos da Sala dos Embaixadores e caminhamos um pouco. O Zagal, perante a minha admiração e encanto com aquela infraestrutura, olha-me e esboça um sorriso – estranho vindo de tão nobre e duro guerreiro – penso que aprecia esse meu encantamento.
É lado-a-lado que entramos no Pátio dos Leões, o símbolo máximo do apogeu da Dinastia Nasrid a grande herança de Muhammad V, a conclusão e mescla de todos os estilos do Alhambra num local mágico. Este pátio, que fica ao centro do Palácio dos Leões, tem a sua linha de água que alimenta uma fonte mágica suportada por majestosos leões que a guardam dos mais ousados usurpadores.
Fico sem palavras e confesso ao Zagal que fiquei a entender o porquê deste lutar com toda a sua força na defesa de Granada.
Abdicar de tamanho tesouro seria uma tremenda loucura.
As salas que ladeiam o pátio são algo que nos transporta para um outro mundo, que nos fazem sonhar e indagar se estaremos mesmo no planeta terra ou na Ásia.
Sou levado para a Sala dos Reis, o Zagal percebe que tem de me puxar pelo braço, tal o meu espanto, mas aí... espera-me outra grande surpresa. As pinturas, a planta longitudinal e a imaginação a permitir-me vislumbrar as recepções que ali teriam lugar, os turbantes, a mescla de vestidos e a habitual agitação e simpatia daquele povo. Contudo, sou alertado pelo Zagal... diz-me que nem tudo é tão belo, posto que, foi no Pátio dos Leões que muitos perderam a vida em disputas dinásticas e intrigas palacianas. Alerta-me, aliás, que estamos prestes a entrar numa das mais importantes salas do Palácio dos Leões: a Sala dos Abencerrajes. Conta-me o Zagal que foi aqui que ordenou a ida do irmão, Abén Hacen, para Salobreña e que, também foi aqui que teve grandes disputas com o sobrinho Boabdil.
O que o Zagal não me confessou, foi que ele e o irmão haviam sido os responsáveis pela morte da família dos Abencerrajes por serem uma família forte e poderosa do reino e também por serem uma ameaça à governação destes, sobretudo depois da revolta de Málaga em 1469. Todavia, esta é uma discussão que ainda hoje perdura, pois Irving, nos Contos de Alhambra, afirma que o assassinato foi ordenado por Abu Nasr Sad, conhecido como (Ciriza). Diz-se que, à época, o sangue dos mortos foi tanto que tingiu a transparente água do Pátio dos Leões de vermelho...
Noto a respiração do Zagal a acelerar e uma certa dureza no rosto, pelo que agora sou eu quem o guia para a Sala das Duas Irmãs.
Aqui nos sentámos a contemplar o espaço, sobretudo a cúpula moçárabe que se desenvolve com base no conhecido Teorema de Pitágoras.
O silêncio passou a reinar, ambos ficamos perdidos nos nossos pensamentos, o Zagal a pensar no futuro do seu reino, ou talvez no triste episódio que não me relatou e eu... eu fiquei a tentar reconstruir esse acontecimento tendo como base a pintura de Marià Fortuny que se encontra no Museu Nacional de Arte da Catalunha e que não é nada mais nada menos que “La Matanza de los Abencerrajes”.
Para os recém-chegados a esta aventura:
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/aben-hacen-e-zahara-17518
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/el-zegri-e-ronda-18287
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/salobrena-e-a-morte-de-aben-hacen-19240
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/cordoba-o-quartel-general-cristao-19524
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/malaga-o-inicio-das-hostilidades-20973
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/malaga-o-desastre-e-a-capitulacao-21257
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/da-serra-nevada-e-das-alpujarras-se-22619
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/granada-cada-vez-mais-perto-23369
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/o-alcazaba-do-alhambra-e-a-inspiracao-24720
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/a-conversa-com-o-zagal-na-sala-dos-25527
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.