Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Haver... Havia.... Não era grande coisa... Mas haver havia...
Para quem agora chegou ao campo de batalha, deixo aqui o início das hostes:
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/aben-hacen-e-zahara-17518
http://naoequenaohouvesse.blogs.sapo.pt/el-zegri-e-ronda-18287
Com Muley Aben Hácen cada vez mais doente, a luta pelo trono de Granada intensificou-se e as tensões internas também. As duas facções, uma fiel a Boabdil - que era, por sua vez, fiel à coroa de Castela e Aragão e se encontrava em Córdoba junto dos reis católicos - e uma outra fiel ao Zagal (Abū `Abd Allāh Muhammad az-Zaghall), tio de Boabdil e irmão de Aben Hacén, disputavam o Governo de Granada.
Todavia, uma grande viragem iria ter lugar. Com o estado de saúde de Aben Hacén a degradar-se, o Zagal decidiu, estrategicamente, enviar, sob o pretexto de dar melhores condições ao enfermo, a família próxima e o próprio Aben Hacén para a fortaleza de Salobreña.
Granada ficaria agora sob alçada do Zagal, sobretudo porque Aben Hacén, a sultana e os seus filhos ficariam, de certo modo, presos e sem capacidade de mover os seus partidários em Granada.
Salobreña é um daqueles locais em que qualquer um de nós gostaria de estar preso. Da sua fortaleza, é possível ter uma imagem singular, pois de um lado temos as calmas águas do Mar de Alborão (parte mais ocidental do Mar Mediterrâneo) e do outro, ficamos ansiosos por nos perdermos nos cumes da Serra Nevada. A tranquilidade da mesma é, por certo, o mote para, sobre um raio de sol, contemplarmos a magia e a história que o Mediterrâneo guarda. Ficamos perante uma espécie de culminar de beleza natural antes de Almuñecar e Nerja. Se por um lado, a "varanda da Europa" está em Nerja, por outro, a "fortaleza da Europa" está em Salobreña. O Mediterrâneo, ali tão perto como caminho de águas calmas para o Norte de África. As águas que trouxeram a nossa herança árabe e as mesmas águas que levaram muitos destes povos para lá do Atlas.
Lendo a “Crónica da Conquista de Granada”, podemos imaginar a morte com um sorriso de Aben Hacén e os pensamentos trágicos em relação ao futuro, que todos os seus próximos, sobretudo a sultana, terão visto ser desencadeados nas suas mentes.
Aben Hacén morreria pouco tempo depois de chegar a Salobreña, usufruiu, talvez, de uma espécie de paraíso terreno antes da morte... morreria junto dos seus e já não assistiria ao envio de todos os seus tesouros para Granada. O Zagal, conta-se, terá ordenado que o corpo de Muley Hacen fosse transladado sobre uma mula e sepultado sem qualquer espécie de honras, garantindo que a cerimónia decorresse em segredo de modo a evitar agitações populares. Consta, segundo a crónica, que cita um outro cronista, que foram dois prisioneiros cristãos que depositaram o corpo no ossário real.
Vinham mais convulsões internas a caminho e que seriam prejudiciais para o futuro do tão formoso e rico Reino de Granada.
Uma curiosidade, alheia à crónica, prende-se com o facto de, em 2006, Salobreña ter visto fechar o último engenho de açúcar ainda existente na Europa continental.
Fonte das Imagem: Própria.
Iniciei a leitura das páginas da “Crónica de la conquista de Granada” (sim, em castelhano) de Washington Irving, baseada nos escritos de Frei António Agápida. História de Espanha... lê-se em castelhano.
Esta crónica relata um dos episódios históricos e sociais mais marcantes da Península Ibérica, nomeadamente, as últimas guerras da reconquista cristã... que não acabaram com a conquista do Algarve.
Se em Portugal já andávamos a explorar o continente africano, em Espanha o Reino de Granada, governado pelo rei mouro Muley Aben Hácen, ainda disputava o seu território com os Reis Católicos - Fernando II e Isabel I.
Até aqui, nada de novo... o interesse começa quando o soberano mouro deixa de pagar o tributo à coroa espanhola e decide avançar, em primeiro lugar, com as hostilidades. Mais tarde ou mais cedo alguém ia dar o primeiro passo. Também Fernando II, só não avançara porque tinha de gerir as convulsões internas do seu próprio reino e os habituais atritos com os primeiros separatistas que “Espanha” conheceu: os Portugueses.
E eis que, para minha surpresa, Muley Aben Hácen decide atacar e tomar Zahara de la Sierra, um pueblo andaluz situado no Parque Natural de Grazalema e que faz parte da “Rota dos Pueblos Blancos”. Esta tomada decorreu de forma hostil com várias mortes e prisioneiros, aliás, no regresso a Granada, perante tão sanguinária campanha, muitos foram os que anteviram um cenário negro para o reino: uma espécie de castigo que chegaria muito em breve.
Zahara é daquelas imagens que não se esquecem. Da barragem, agora construída, e olhando para aquele pueblo, conseguimos imaginar as forças de Aben Hácen a invadir a fortaleza (conquistada em 1407 aos Mouros) que ainda hoje lá se encontra. Imaginamos os gritos dos seus residentes a ecoarem pelos vales até Arcos, embora a paisagem, tão bucólica, possa levar ao engano. Uma chegada ao amanhecer transmite-nos uma tranquilidade singular, uma espécie de acalmia pós-batalha e cujo cenário jamais permitirá, ao ignorante de tais factos, imaginar a carnificina que ali teve lugar na noite anterior. O principio do fim da presença muçulmana na Península Ibérica começara em Zahara a ser redigido.
Foi uma agradável surpresa, aperceber-me da importância de tão bonito local e, pelo que estou a ler, será o primeiro de muitos no que toca às peripécias da Conquista de Granada.
Fonte da Imagem: Própria.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.